quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Balada das vinte meninas (poema e canção)

 

Balada das vinte meninas

 

Vinte meninas, não mais,

Eu via ali no beiral:

Tinham cabecinha preta

E branquinho o avental.

 

Vinte meninas, não mais,

Eu via naquele muro:

Tinham cabecinha preta,

Vestidinho azul escuro.

 

Vinte meninas, não mais,

Na torre acima de tudo:

Tinham cabecinha preta,

e capinha de veludo.

 

Vinte meninas, não mais,

No alto da ramaria:

Tinham cabecinha preta,

Peúga de fantasia.

 

As minhas vinte meninas,

Capinhas dizendo adeus,

Chegaram na Primavera

A acenaram lá dos céus.

 

As minhas vinte meninas

Dormiam quentes num ninho

Feito de amor e de terra,

Feito de lama e carinho.

 

As minhas vinte meninas

Para o almoço e o jantar

Tinham coisas pequeninas,

Que apanhavam pelo ar.

 

As minhas vinte meninas

Com roupinha de cotio,

Chegaram na Primavera

Pois vinham fugindo ao frio

 

Já passou a Primavera

Suas horas pequeninas:

E houve um milagre nos ninhos.

Pois foram mães, as meninas!

 

Eram ovos redondinhos

Que apetecia beijar:

Ovos que continham vidas

E asinhas para voar.

 

Já não são vinte meninas

Que a luz do Sol acalenta.

São muitas mais! muitas mais!

Não são vinte, são oitenta!

 

Depois oitenta meninas

Eu via ali no beiral:

Tinham cabecinha preta

E branquinho o avental.

 

Depois oitenta meninas

Eu via naquele muro:

Tinham cabecinha preta,

Vestidinho azul escuro.

 

Depois oitenta meninas

No alto da ramaria:

Tinham cabecinha preta,

Peúga de fantasia.

 

Mas as oitenta meninas,

Capinhas dizendo adeus,

Em certo dia de Outono

Perderam-se pelos céus.

 

Depois oitenta meninas

Na torre acima de tudo:

Tinham cabecinha preta,

e capinha de veludo.

 

E as minhas tantas meninas

Lá voaram, uma a uma:

E eu fiquei cheia de frio

E não voltou mais nenhuma…

 

Matilde Rosa Araújo

 

                             

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