Balada das vinte meninas
Vinte
meninas, não mais,
Eu
via ali no beiral:
Tinham
cabecinha preta
E
branquinho o avental.
Vinte
meninas, não mais,
Eu
via naquele muro:
Tinham
cabecinha preta,
Vestidinho
azul escuro.
Vinte
meninas, não mais,
Na
torre acima de tudo:
Tinham
cabecinha preta,
e
capinha de veludo.
Vinte
meninas, não mais,
No
alto da ramaria:
Tinham
cabecinha preta,
Peúga
de fantasia.
As
minhas vinte meninas,
Capinhas
dizendo adeus,
Chegaram
na Primavera
A
acenaram lá dos céus.
As
minhas vinte meninas
Dormiam
quentes num ninho
Feito
de amor e de terra,
Feito
de lama e carinho.
As
minhas vinte meninas
Para
o almoço e o jantar
Tinham
coisas pequeninas,
Que
apanhavam pelo ar.
As
minhas vinte meninas
Com
roupinha de cotio,
Chegaram
na Primavera
Pois
vinham fugindo ao frio
Já
passou a Primavera
Suas
horas pequeninas:
E
houve um milagre nos ninhos.
Pois
foram mães, as meninas!
Eram
ovos redondinhos
Que
apetecia beijar:
Ovos
que continham vidas
E
asinhas para voar.
Já
não são vinte meninas
Que
a luz do Sol acalenta.
São
muitas mais! muitas mais!
Não
são vinte, são oitenta!
Depois
oitenta meninas
Eu
via ali no beiral:
Tinham
cabecinha preta
E
branquinho o avental.
Depois
oitenta meninas
Eu
via naquele muro:
Tinham
cabecinha preta,
Vestidinho
azul escuro.
Depois
oitenta meninas
No
alto da ramaria:
Tinham
cabecinha preta,
Peúga
de fantasia.
Mas
as oitenta meninas,
Capinhas
dizendo adeus,
Em
certo dia de Outono
Perderam-se
pelos céus.
Depois
oitenta meninas
Na
torre acima de tudo:
Tinham
cabecinha preta,
e
capinha de veludo.
E
as minhas tantas meninas
Lá
voaram, uma a uma:
E
eu fiquei cheia de frio
E
não voltou mais nenhuma…
Matilde
Rosa Araújo
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